domingo, 22 de julho de 2007

DESALENTO






Nós, que confiávamos tanto,
porque, de tão cândidos,
não compreendíamos a realidade.
Nós, que desenhávamos tanto,
porque, de tão silenciados,
mal intentávamos usar palavras.
Nós, que sonhávamos tanto,
porque, de tão tolhidos,
só contemplávamos o futuro.
Nós, que nos amávamos tanto,
porque, de tão desdenhados,
bastávamo-nos a nós mesmos.

O que fizemos de nós?
Escoramo-nos
no que fizeram de nós
e ali nos acomodamos.
Emaranhamo-nos
naqueles mesmos nós...
Nós, que tanto os
repudiamos.

Deixamo-nos
esmorecer e permitimos
que se puíssem nossos
mais profundos laços.
Não mais confiamos,
foi-se a inocência...
Não mais desenhamos...
As palavras, não medimos...

Não conseguimos
(ou não soubemos?)
construir o que sonhamos.
Pesadelos nos açodam,
adormecidos ou despertos.
Não mais nos bastamos
– até nos desdenhamos.
E a nada disso resistimos...

Justo nós,
que nos amávamos tanto.

Justos nós.