domingo, 22 de julho de 2007

Diálogo entre botão e regato

Delicado botão
flor em esboço
acuado e infeliz
O que te aflige?

Nada, pois nada há,
do nada vim,
ao nada voltarei.

Singelo regato
rio em esboço
corajoso e afoito
O que te anima?


Tudo que agora há
onde antes nada havia.

Pequenino botão
projeto de flor
amargo e aborrecido
O que te susta?

Tudo, pois nada sou,
nada tenho,
nada me seduz.

Diminuto regato
projeto de rio
decidido e ousado
O que te move?

Nada em mim.
O que me conduz
é o que me rodeia.

Inquieto botão
flor anunciada
descrente e enfarada,
o que temes?

Tudo que há no roteiro
do previsível espetáculo.

Caudaloso regato
rio anunciado
confiante e pertinaz,
o que ganhas?

Um curso
e suas paisagens,
algumas espetaculares...

Fezes, urina,
pneus e garrafas...
A vida em dejetos, com
seus peróxidos e nitritos.


Aprendizado,
sabedoria...
Uma história
e seus riscos.

Um traço, que seja,
em um mapa de algum
atlas de geografia.

Fosse uma pétala
seca e desbotada
em meio às páginas
amareladas de um livro...

Fosse um grama
de perfume diluído,
mascarando odores
em uma latrina qualquer?

Ainda assim,
tudo valeria a pena.
Isso é a vida!

Uma pena. Ainda.
Nada vale por si.
Assim é a vida...

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