Delicado botão
flor em esboço
acuado e infeliz
O que te aflige?
Nada, pois nada há,
do nada vim,
ao nada voltarei.
Singelo regato
rio em esboço
corajoso e afoito
O que te anima?
Tudo que agora há
onde antes nada havia.
Pequenino botão
projeto de flor
amargo e aborrecido
O que te susta?
Tudo, pois nada sou,
nada tenho,
nada me seduz.
Diminuto regato
projeto de rio
decidido e ousado
O que te move?
Nada em mim.
O que me conduz
é o que me rodeia.
Inquieto botão
flor anunciada
descrente e enfarada,
o que temes?
Tudo que há no roteiro
do previsível espetáculo.
Caudaloso regato
rio anunciado
confiante e pertinaz,
o que ganhas?
Um curso
e suas paisagens,
algumas espetaculares...
Fezes, urina,
pneus e garrafas...
A vida em dejetos, com
seus peróxidos e nitritos.
Aprendizado,
sabedoria...
Uma história
e seus riscos.
Um traço, que seja,
em um mapa de algum
atlas de geografia.
Fosse uma pétala
seca e desbotada
em meio às páginas
amareladas de um livro...
Fosse um grama
de perfume diluído,
mascarando odores
em uma latrina qualquer?
Ainda assim,
tudo valeria a pena.
Isso é a vida!
Uma pena. Ainda.
Nada vale por si.
Assim é a vida...
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